sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A NOITE DO LOBISOMEM




Na noite mais amaldiçoada do ano de 1789, um vento intenso e nervoso balançava os galhos das árvores de um pequeno vilarejo, enquanto no céu a lua cheia ardia e iluminava todos os casebres. E, em uma daquelas casas se ouvia o martelar de alguma coisa sobre uma bigorna, onde se desenvolvia algo a fogo ardente. O que seria? Alfred estava cansado e suado diante das chamas. Pensava em aniquilá-lo de uma vez por todas.


Sim, Alfred estava se preparando para matar o lobisomem que o havia atacado.


De repente ele ouviu batidas na porta. Parou de martelar.


— Alfred — alguém o chamava. — Abra. É Marion.


Dirigiu-se até a porta e a abriu. Marion era um antigo amigo de infância.


— O que aconteceu?


— Ele me seguiu. Ele me seguiu, Marion!


— Ele quem?


— O lobisomem — Alfred olhou dentro dos olhos do amigo antes de dizer.


Marion ficou mudo. Ele sabia da lenda do lobisomem. Ele conhecia a história.


— Mas... O que você está fazendo?


— Uma bala de prata.


Alfred havia sido perseguido por uma criatura que julgou ser um lobisomem. Tinha dentes e garras afiadas, pêlos longos e um corpo corcunda, com as omoplatas avantajadas. Ele havia conseguido escapar, e agora preparava à bala de prata que o destruiria.


Mas, aquela noite teria muita coisa para apresentar a Alfred. Apaixonado por Victória, ele jamais imaginou que o terror se instalaria entre eles. Foi na busca pelo lobisomem que ele descobriu que havia algo errado na casa de Victoria. Chegando lá, ouviu um ruído estranho. Era o lobisomem. Ele se preparou, tentou se livrar do medo e entrou na casa. No corredor deu de cara com os pais de Victoria. Ambos haviam sido violentamente mortos. A criatura havia destruído a pele deles com arranhões e comido todos os órgãos e partes do corpo. Alfred ficou pasmo e seguiu o barulho. Quando chegou no quarto dela, os avistou. Victoria estava deitada na cama, ensangüentada, e, por sorte, Alfred chegou a tempo de impedir que criatura a atacasse.


— Saia daí seu demônio — gritou e apontou a arma para o lobisomem.


Ele partiu pra cima de Alfred, que não pensou. Atirou. A bala de prata entrou queimando no peito da criatura, que aos poucos foi voltando ao normal. Para a surpresa de Alfred, o lobisomem era seu amigo. Era Marion. Sim, a maldição havia lhe fisgado. Ele era o sétimo filho de uma família de seis irmãs. Ou seja, o sétimo homem é um lobisomem.


Meses depois, Victória descobriu que estava grávida. As dores e as náuseas a levam a crer que sim. Ela dá a luz a um menino pálido e magro, cujo nome dado ele é Tyler.


Sim, ele é filho do lobisomem. Filho de Marion!


13 anos depois uma criança corre pela floresta. É noite de lua cheia e ela percebe que seu sangue borbulha e que algo a incomoda. A lua grita e ela corre até uma encruzilhada. O seu sangue não agüenta mais. Ela não agüenta mais. A lua lhe observa. A dor vem lhe agredir. Esta doendo. Seus ossos se alongam violentamente e mudam de forma, movendo-se tão drasticamente que chegam a romper sua pele. Aos poucos ela começa pinicar e o sangue a correr furioso nas veias. Levantando as orelhas, ela escuta a lua uivante. É ai que, tomado pela forma de uma maldição, o jovem Tyler, fruto da relação entre Victória e Marion, se transforma em lobisomem pela primeira vez em sua vida.


Tyler uiva para a lua. Seu uivo voa longe e ele começa a correr para a mata.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A NOITE DE SEXTA-FEIRA 13


Na madrugada de 13 de julho, sexta-feira, numa pequena cidade do interior, nasceu um menino chamado Jashua. Jashua Vickson. Filho único de um casal de camponeses, o menino cresceu solitário, e suas amizades se limitaram à meia dúzia de crianças. E, com o passar dos tempos, os pais perceberam que ele parecia ser uma criança diferente.

— Tem algo de errado com Jashua — disse a mãe certo dia no café da manhã.

— Eu também ando preocupado — completou o senhor Vickson. — Às vezes tenho medo de olhá-lo. Parece que somos estranhos para ele.

A mãe assentiu, concordando.

Mas o que eles não sabiam era que ali se iniciava uma teia de horror e desgraça que ia começando, aos poucos, a se aconchegar dentro da família Vickson.

Uma semana depois o cachorro da família apareceu morto. O senhor Vickson, começou a procurá-lo em tudo o que era lugar, mas não havia sinal algum do cão. Quando subiu até o quarto de Joshua percebeu um cheiro horrível. Vistoriou o aposento até perceber que o cheiro vinha da cama. Ali, ele se abaixou e observou. Assustou-se. Ele estava lá. Tirou o cão debaixo da cama e, quando o viu, sentiu fortes náuseas. Ele tinha sido aberto ao meio. Estava sem os olhos e sem os órgãos. Furioso, senhor Vickson desceu as escadas.

— Jashua, foi você?

A mãe olhou para ele sem entender.

— Foi você? — o pai insistiu. — Responda!


— Não — ele respondeu, sério.


A época Jashua tinha 12 anos, e pela primeira vez havia matado.


Os anos foram passando, e coisas cada vez mais horríveis foram acontecendo. Teve uma noite de chuva que a senhora Vickson acordou e foi até o quarto do filho. Quando lá chegou, encontrou um gato preto crucifixado na parede, como se estivesse em uma cruz. Jashua não estava na cama. Mas, quando a mãe tentou correr e avisar o marido, encontrou o menino no corredor, olhando-a nos olhos, encarando-a como se fosse uma assombração.


Os fatos passaram e Jashua cresceu. Começou a trabalhar em uma lanchonete e, quando tinha exatamente 16 anos, apaixonou-se por Sophie. O tempo fez Jashua crer que somente ela era a mulher de sua vida e poderia fazê-lo feliz. Porém um dia, ao sair do seu trabalho, ele a avistou com outro rapaz. Furioso e fora de si, Jashua voltou para a lanchonete e pegou algo. Na rua, seguiu-os. Quando viu que o rapaz deixava Sophie em casa, ficou a espreita. Jashua viu o rapaz sair e caminhar pela rua escura, então começou a seguí-lo. Quando se sentiu hábil àquilo, partiu pra cima dele e matou-o com 48 facadas. O sangue jorrava sobre sua face e ele não sorria, só desferia os golpes, satisfeito em fazê-los.


Possuído, Jashua foi para casa carregando o nervosismo e o rancor que há anos encontrava-se escondido, e que agora, somente agora, depois de tanto tempo, se libertava.


Quando chegou, foi até o porão e pegou o machado que o pai usava para cortar lenha e entrou na casa. Subiu as escadas e parou em frente à porta do quarto dos pais. Entrou, e lá dentro ele teve coragem e sangue frio para assassinar os pais fazendo picadinho deles. Sobre a cama, os Vickson foram esquartejados por um filho que julgavam estranho, mas que na verdade era um assassino. Assim que acabou, pela primeira vez em sua vida, Jashua sorriu. Sorriu e foi para a janela. Olhou para fora, para a mata e para a chuva, e se jogou do terceiro andar. Caiu estatelado no chão. Mas, antes que se dissesse que Jashua havia morrido, ele abriu um dos olhos.


O dia era sexta-feira, 13 de agosto de 2010!