
Se tem uma coisa que Ariella e Maria sempre preservaram era a amizade. Para elas, acima de tudo, persistia a amizade. Tanto que até o medo de uma perder a outra as abalava.
O fato é que o inesperado um dia iria acontecer. Ariella passaria o final de semana na casa de sua avó, por isso foi até a casa da amiga se despedir.
— Boa viagem — disse Maria ao abraçá-la. — E se cuide.
Depois que saiu da casa de Maria, Ariella se despediu do namorado, que era um rapaz alto, forte e com feições belas, cujos atributos deixavam todas as meninas do bairro a ponto de explodir, inclusive Maria. Ariella tinha ciúmes de Nicolas, por isso dizia que mesmo que a morte a golpeasse, ela não ficaria feliz em vê-lo com outra.
Mas o destino fez com que o ônibus que Ariella viajava abalroasse com um caminhão que trafegava em alta velocidade e, infelizmente, ela tinha sido uma das vitimas fatais do acidente. Morrera na hora. Seus amigos, Maria, Nicolas e todos aqueles que aprenderam a amá-la, não aceitavam o fato dela ter morrido, mas, mesmo que as lágrimas saíssem desesperadas, não adiantava, ela estava morta e nada faria com que ela voltasse.
Nicolas ficara muito sentido com a morte da namorada, e Maria, como era a melhor amiga de Ariella, pôs-se a consolar o rapaz, que repentinamente acabou se apegando a ela. Maria, que jamais se imaginou ficando com Nicolas, deixou de lado esse pensamento e foi se entregando a ele. O primeiro beijo aconteceu dois dias depois do falecimento de Ariella. Depois disso, ambos começaram a se encontrar, primeiro furtivamente, depois, em público. Mas o fato de estarem juntos trouxe a eles alguns fatos desgostosos e estranhos. Certa noite, quando Nicolas dirigia seu veiculo por uma rodovia, jurou ver pelo retrovisor Ariella sentada no banco de trás. Maria assustou-se e disse que isso era bobagem e que só poderia ser coisa de sua cabeça. Mas o primeiro fato fantasmagórico que aconteceu com Maria foi torturante. Ela estava no quarto e ouviu uma risada, depois um arrepio em sua nuca. Deitada na cama, não percebeu nada, foi tudo tão rápido, e só sentiu quando duas mãos tentavam estrangulá-la. Seu pai entrou no quarto e perguntou o que ela tinha.
— Alguma... — disse ela, recuperando-se. — Alguma coisa...
De fato o fantasma de Ariella estava ali. No cemitério um túmulo estava vazio. Uma tumba jazia desfeita, deixando a vista um buraco. Ariella saíra do seu túmulo e começava a caminhar como um zumbi. Seu caminhar hesitante, seu olhar petrificado e seu pensamento alinhado. Quando chegou na casa de Maria, apenas queria pegá-la e levá-la consigo. No quarto ela parou em frente à cama, a centímetros do rosto de Maria. Olhou para ela e calou-a com a mão. Maria se debatia, mas a força de Ariella era mais forte. Os olhos esbugalhados estampavam o terror no rosto de Maria, que logo calou-se, desmaiada.
Ariella, o zumbi, o fantasma, o demônio, pegou Maria, aquela que era a sua melhor amiga, pelos cabelos e arrastou-a pelas ruas da cidade até o cemitério. Quando chegou em sua tumba, no buraco que a esperava, ela percebeu que Maria ia acordando. Tentou se desvencilhar dos braços de Ariella, mas a força dela não a deixava. No céu, uma tempestade descia com fúria, e o terror se completava com o ódio de Ariella e com o medo de Maria. Rapidamente Ariella foi entrando em seu túmulo, levando consigo Maria.
Dentro da tumba, a terra foi enterrando Ariella, já acostumada com o seu lugar e Maria, viva, vendo a morte chegar da pior maneira possível. Ariella riu e olhou para Maria.
— Eu disse que viria pegar quem ficasse com meu namorado.
A terra as enterrou. A chuva caia e a sepultura de Ariella agora tinha dois corpos.