segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

PAPAI-NOEL DO INFERNO


Para o pequenino Ed, o natal sempre foi motivo de muita alegria. Ele acreditava em Papai Noel, porém, nunca teve a glória de vê-lo. E agora, com 8 anos de idade, sonhava em ter essa grande oportunidade de ficar frente a frente com ele.

– Ed, se você não se comportar, o Papai Noel não vai lhe trazer presente – dizia seu pai, toda vez que ele fazia algo de errado.

Entrava ano e saia ano e Ed, todo dia 25 de dezembro acordava cedo e corria até a árvore de natal, que ficava na sala, defronte a lareira onde, segundo a sua mãe, o Papai Noel descia e depositava o presente que ele tanto havia desejado.

Agora, carregando oito precoces primaveras, o pequeno Ed começava a se perguntar quem era o Papai Noel, de onde ele vinha e como ele chegava até sua casa. A noite era 24 de dezembro, e depois de voltarem da celebração de natal e de jantarem os três juntos, Ed olhou para aquele pinheirinho todo colorido, com bolas coloridas, com enfeites de Papai Noel, luzes piscando, um presépio ao pé da árvore, e pensou consigo mesmo: Hoje verei o Papai Noel! Hoje ficarei acordado para vê-lo depositar ali o meu presente. Mas Ed pensou alto, e sua mãe, infelizmente, ouviu seu pensamento.

– Como é mocinho? Nada de ficar acordado hoje à noite – ela o repreendeu. – Saiba que o Papai Noel não gosta que as crianças fiquem acordadas. Alias, vou lembrá-lo de que ele anda por ai à noite, e quando percebe alguma criança acordada começa a fazer barulhos estranhos, como arrastar correntes, e coloca essas crianças em seu saco.

– É verdade, pai? – assustado, ele o interrogou.

– Claro, Ed. Agora vá dormir. Amanhã você terá uma surpresa.

Carregando esse maldito pensamento, Ed deu boa noite aos pais e subiu para o seu quarto, onde tentou dormir. Pensou no que a mãe havia lhe dito e sentiu uma pontada de medo, mas logo, se lembrando da surpresa, abriu um riso. A noite andou, mas Ed não conseguiu pregar os olhos. Lá fora a neve caia lentamente e ali dentro o frio e a angustia não o deixavam pegar no sono. Não se sabia ao certo à hora, sabia-se apenas que era alta madrugada quando, de repente, Ed levantou. Estava decidido: iria esperar o Papai Noel lá embaixo. Veria o bom velhinho pela primeira vez!

Desceu as escadas cuidadosamente e, velado por uma penumbra cálida e fria, não ligou as luzes. Lá embaixo observou a neve cair e, de pijama, ficou em frente à lareira, esperando-o. Minutos se passaram até que, de súbito, o incomodativo barulho de correntes lhe assaltou os ouvidos. Ed se enregelou de medo. Fitou a lareira e escutou um estrondo. Lentamente começou a sair dela uma figura vestida de vermelho, barba branca e com um saco às costas. Ed sorriu, talvez aliviado ao ver o bom – ou mau – velhinho.

– Papai Noel! – estupefato, disse a si mesmo. – Você existe...

A figura de vermelho caminhou até ele e o pegou no colo. Ed estava a centímetros do rosto do Papai Noel. Sentia a respiração do homenzarrão vestido de vermelho que transmitia paz, amor, bondade e... Ilusão! A figura que o segurava não era aquilo que as crianças ou que algum de nós de fato havia de imaginar que fosse.

Com uma das mãos segurou Ed pelo pescoço e colocou-o no chão. Do seu saco extraiu um pequeno machado e, de um golpe só, em meio à escuridão da noite, degolou o pescoço do menino e deixou a cabeça de lado. Depois, com o mesmo machado, fez picadinho de seus membros. Terminado, a figura monstruosa tirou a mascará que cobria seu rosto. Seu aspecto era fantasmagórico. O Papai Noel era do inferno!

Pela manhã os pais de Ed acordaram e foram até a sala. Perceberam que além dos presentes que eles haviam depositado sob a árvore, duas outras caixas jaziam ali. Viram seus nomes sobre elas e entreolharam-se. Abriram os presentes ao mesmo tempo, e quando conseguiram ver o que dentro havia, seus sorrisos rapidamente desapareceram. O pai avistou a cabeça decepada do filho em uma caixa menor, e a mãe, de forma horrenda, os membros do pequenino Ed na caixa maior. O natal macabro acabava ali!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O SONHO QUE JAMAIS DEIXAREI DE SONHAR


O ser humano só morre a partir do momento que deixa de sonhar. Por isso hoje, depois de tanto tempo sem vê-lo, sem tocá-lo, sem senti-lo me abraçando, conservo em minha alma o sonho secreto de ainda reencontrá-lo. Nunca compreendi como a vida pode ser tão ingrata, mas, a partir do momento que ela extrai algo de nossas mãos, começamos a entender que, na verdade, ela apenas quer nos dar uma lição, e que todos os atos não dependem dela, mas sim, de nós mesmos.


Hoje estou aqui, faz frio ao meu redor e, acreditem, me encorajo a estar aqui. Sentada em frente ao mar, nessa areia fina e fofa, olho as ondas que quebram num murmúrio triste de saudade. Lembro-me dele. Sim, lembro-me dele. A saudade é tanta... Vislumbro a praia vazia, o vento que ligeiramente me abraça, me esfria, as gaivotas que dançam no céu, me observando, assim como eu observo a imensidão azul do mar sem fim. Lá no horizonte o sol se punha, devagarzinho, em total solidão. Os últimos raios pincelam a areia da praia, assim como as lágrimas que adornam meu rosto triste.


— Sinto tanta saudade de você! — digo a mim mesma, olhando as águas agitadas.


Subitamente me vem uma imagem longínqua, mas sempre presente, do nosso último encontro. Ele, tão amável e carinhoso, disse-me que jamais queria me perder. Olhei-o e dei-lhe um beijo. Em seguida, ele respirou profundamente e me fitou.


— Quisera eu que o mundo acabasse agora, meu amor.


— Por quê? — perguntei, curiosa.


Ele soltou um riso.


— Assim, desta forma, morreríamos juntos, e nossas almas viajariam para a eternidade, onde ficaríamos perpetuamente unidos, num fim totalmente nosso.


Seu beijo desfez meu riso de repente, mas, enquanto sua boca me possuía, pude sentir algo úmido em meu rosto. Era uma lágrima. A única lágrima que até hoje percebi sair de seus olhos verdes.


Um emaranhado de lembranças avulsas me persegue diuturnamente. É estranho, pois não posso ver o mar. Me lembra ele. Não posso ver o pôr do sol. Me lembra ele. Não posso ouvir a chuva. Me lembra ele. Não posso deitar a cabeça sob o travesseiro. Me lembra... bom, eu não posso nem respirar, pois isso também me lembra ele.


Antes que me esqueça de falar, meu nome é Gabriela, e digo, acima de qualquer coisa, que amo a vida e as pessoas que me amam – nesse momento sinto o cheiro da praia, os sons, o frescor da brisa que me brinda com o seu doce ar de natureza, amor e... saudade!


Contudo hoje, aqui defronte ao mar, recordo os momentos bons que juntos passamos e conservo os sonhos para não deixar cair-me em desgraça. Talvez ele esteja pensando em mim em algum lugar, talvez não. Talvez ele até esteja morto – cruzes, que coisa idiota eu disse!. Não, morto ele jamais estará, pois vive loucamente dentro de mim e sempre viverá.


Espere! Lembrei-me de outra coisa que ele me disse certa vez. Caia uma garoa fina e estávamos caminhando próximo a praia sob um guarda- chuva negro que ele carregava.


— Quando eu morrer, quero que não chore. Transforme as lágrimas em lembranças boas que juntos tivemos. A morte não deve ser o sinal da tristeza, afinal de contas, essa vida é apenas passageira, já a outra, é eterna. Olhe para trás e veja o que eu fui, vivi e fiz.


Agora, lentamente eu me levanto. Enxugo uma lágrima, e tenho certeza que esse é um sonho que jamais deixarei de sonhar, porque sei que ele está me esperando, e que sua morte, apesar de me fazer sofrer, me acalma, pois lá de cima, ele sabe me cuidar.