sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

AMANTES DE UM TEMPO SEM FIM



Talvez algum dia, em algum lugar, eu consiga compreender o porquê de algumas coisas serem tão injustas. As vezes acho que o destino debocha de minha cara, sem perceber que as poucos ele começa a destruir um coração já machucado e cansado.

Tenho idade suficiente para entender que o meu destino já está traçado, e amaldiçôo-me por isso. A minha maior glória é a presença de minha filha em meus dias, e seguidamente penso que ela é o real motivo que me faz viver. Sabe, por muitos dias a fio eu pensei em como seria a minha vida se ele não tivesse entrado nela. Ainda o amo! Sempre nos amaremos! Mas o destino tratou de nos afastar. Lembro-me que cada um seguiu o seu caminho e que a vida tornou-se salgada para ambos. A comida não tinha mais sabor, o sol não mais brilhava com a intensidade que deveria, as cores sumiram e toda a escuridão que jamais imaginei experimentar, se instalou em mim.

Assim o tempo passou, e coisas inesperadas vieram a ocorrer. Conheci outro homem, e desse romance sem sal nasceu minha filha. Com dificuldades e esparsas alegrias, os dias iam e vinham e eu sabia que a felicidade não existia para mim, pois a única coisa que poderia fazer de mim uma mulher feliz, era a presença e o amor dele.

Previsivelmente, me separei a algum tempo e hoje vivo somente com a minha pequena. Há alguns dias andei vasculhando o meu apartamento a procura de algumas coisas, e por ironia, acabei achando uma caixa cheia de cartas. Todas as cartas que ele me enviou. Num momento de pura nostalgia, comecei a desdobrá-las e a lê-las. Todas lindas, todas tão bem escritas com a caligrafia que eu reconheceria em qualquer lugar. Em algumas delas encontrei flores secas, das inúmeras que ele me dava. Por algumas horas li várias e várias cartas e lembrei-me de como era lindo o jeito de como ele me chamava de princesa e, por vezes, me oferecia carona, levando-me pra lá e pra cá em seu automóvel Fusca. No meio daquele arsenal de palavras calibradas de amor, viajei por um mundo somente nosso, vasculhando na alma alguma resposta que pudesse me deixar em paz a ponto de me fazer compreender o porquê daquele amor proibido.

Nas noites de inverno, quando a escuridão paira sobre a cidade, e quando a minha filha já está mergulhada num somo profundo, eu sento na mesma janela e olho pra fora. Observo o vento traiçoeiro, a chuva fina e a névoa densa tomando conta da cidade. A lembrança dele vem bombardear a minha mente. Era nesses momentos que ele me tomava nos braços e me acariciava como poucos conseguem fazer.

Vendo todo esse sentimento bagunçado que havia dentro de mim mesma, após todos os fatos ocorridos, tomei a decisão de ir procurá-lo, sabendo que meu medo era grande, pois ele teria todo direito do mundo em não querer me ver, nem conversar comigo. Mas me enganei. Quando nos encontramos pude perceber que aquele sentimento que existia dentro de mim fez meu coração bater tão forte, sem controle...

Nos últimos tempos, após este nosso primeiro encontro, temos nos encontrado muito esporadicamente, mesmo que furtivamente. Passamos poucas horas ou minutos juntos, mas é o suficiente para matar a saudade e o gosto sensível de um amor totalmente nosso. Mas isso não basta, pois sabemos que muito embora esses encontros sejam inteiramente agradáveis, o momento é curto e logo teremos que nos separar.

Porque Deus criou o amor proibido? Porque o destino costuma ser tão amargo?

Para algumas perguntas simplesmente não existem respostas. Ou tentamos compreender a pergunta ou assentimos e vivemos com o segredo para o resto da vida.

Eu amo ele, e tenho certeza que ele também me ama. Circunstâncias adversas impedem o nosso amor, mas nada no mundo bloqueará a nossa história, e nosso romance, esse que tanto sofremos para viver, ficará eternamente ligado em alguma veia do nosso coração, cravada na nossa alma, perpetuando-se pelos tempos sem fim, como se um dia, quando as respostas forem encontradas, talvez as pessoas consigam entender o que um amor pode fazer entre duas pessoas separadas pelo destino.

sábado, 14 de janeiro de 2012

PUNHOS EM AÇÃO, SANGUE NO CHÃO


Jamais faça mal algum a mulheres e crianças inocentes, você poderá se machucar. Digo isso porque certa vez quase destruí a face de um homem, e só não o matei porque vizinhos me arrancaram de cima do maldito. Até hoje acho que nunca tive tanta raiva e ódio em toda a minha vida... mas não me arrependendo de nada.

Seu nome era Javier Mendonça, um mexicano metido a vendedor de produtos de limpeza que volta e meia visitava minha casa, não a fim de vender, mas a fim de dar em cima de mulher, como vim percebendo nos últimos dias.

Sempre trabalhei, desde pequeno. Na infância, quando meu pai me levava junto com ele para o seu local de trabalho – uma oficina mecânica a algumas quadras de casa –, eu desenvolvia o oficio da profissão com os olhos, e depois com as mãos. Com dezoito anos fui convidado para participar de um campeonato de luta, onde após observar minha envergadura e ficar, de certa forma, estupefato com o meu tamanho, um dos clientes da oficina me ofereceu suporte e disse que eu seria um grande lutador. Concordei com a ideia e, enfim, dias depois estava lutando pela primeira vez.

Anos depois conheci Val, mulher cujo relacionamento nos presenteou Louis, nosso lindo filho. Após constituir a minha família, continuei trabalhando na oficina e fui aumentando minha popularidade nas lutas que participava. Tudo ia bem, até que Javier veio para atrapalhar as coisas.

Naquele dia, com a camisa nas mãos, fui chegando em casa. As botas, apesar de pesadas, quase não fazia barulhos. A calça estava toda suja e meu peito e abdômen externavam alguns resquícios de motores múltiplos. Percebi tudo calmo até então, nada de anormal, até que, quando fui chegando à garagem, ouvi um grito e alguns soluços. Soltei a camisa e corri casa adentro. A primeira visão que tive foi do meu filho sentado no chão da sala chorando. Olhei-o e peguei a primeira coisa que vi pela frente: um abajur. Segui furioso com ele na mão. Minhas vistas avistaram Javier com uma mão no pescoço de Val e com a outra tentando invadir suas pernas por baixo do vestido.

Por tudo que é mais sagrado, eu me senti como se uma corrente elétrica entrasse pelas minhas veias e tomasse conta do meu corpo, possuindo-me como um demônio. Senti elas se dilatando e meus olhos se abriram de uma maneira que o sangue poderia a qualquer momento explodi-los. A minha boca pareceu salivar. Agarrei aquele abajur e, a sangue frio, bati com tudo nas costas de Javier, que caiu no chão. Pedi a Val como ela estava e quando percebi, ele estava se levantando. Fui até ele e chutei seu rosto com o peso das minhas botas. No chão, peguei-o pelo colarinho e o ergui, jogando contra a parede. Minhas mãos voaram de encontro a seu estomago e seu rosto inúmeras vezes. Enquanto ele gemia, eu gritava como um doente, um doido, um maluco afoito querendo a todo custo mostrar que ele não devia de modo algum ter entrado naquela casa.

Peguei Javier pelos cabelos e o arrastei para fora da casa. No jardim ele minhas mãos e pés davam o corretivo merecido. O sangue começou a sair de sua boca e nariz. Javier não mais possuia força alguma. Meus dedos ardiam, mas eu não estava me importando, pois naquele momento a única coisa que eu queria era que o movimento do meu braço acelerasse para bater cada vez mais naquele filho da mãe.

Depois de alguns minutos, senti dezenas de mãos sobre meus ombros e minhas costas. Eram os vizinhos me arrancando dali. Quando me afastei, vi que a grama estava manchada de vermelho com o sangue de Javier e que ele estava desmaiado, coberto de sangue por todo o corpo. Eu ofegava, cansado de tanto batê-lo com meus punhos.

Quando a ambulância chegou, eu estava abraçado em Val e Louis, protegendo-os. Javier foi levado para o hospital e minha raiva e ódio aos poucos começou a sumir, como se um calmante tivesse entrando em meu sangue. Beijei meus maiores tesouros.