
Escolheu uma mesa ao fundo, na janela. Lá fora a neve começava a pintar de branco o negro das ruas como estrelas a preencher o escuro do céu. Logo após fazer o pedido, a presença de um homem adentrando aquele estabelecimento chamou a sua atenção. Sua fisionomia era atraente, com ares de galanteador. Usava botas e vestia um longo sobretudo preto, cobrindo-o num mistério que tornava-se maior ao vislumbrar a sua bela face. Tinha cabelos curtos de cor acastanhada, boca grande rodeada por uma barba rala, por fazer. Porém, o maior segredo a ser desvendo naquele homem, residia em seus olhos, e foi isso que chamou a atenção de Maylene. Os olhos verdes perturbadores observavam com tal afinco que era capaz de hipnotizar qualquer um.
Presa àquele olhar, Maylene desviou o rosto, mas percebeu que ele havia sentado no balcão. Por vezes, ele a observava, causando-lhe certos calafrios. Assim que o pedido de Maylene chegou, o garçom se aproximou e parou a sua frente, bloqueando a visão que ela tinha do misterioso homem. O garçom extraiu do bolso um papel e estendeu para ela. Era um bilhete que trazia a seguinte mensagem:
“Eu teria mil razões para não escrever este bilhete, mas a sua beleza foi à única razão que me fez escrevê-lo. Gostaria de conhecê-la. Amanhã, mesma hora e local.”
Maylene olhou para o garçom, curiosa. Ele sustentou seu olhar e disse;
– Foi aquele senhor que me... – sua voz sumira de repente, assim como o homem misterioso que não mais fazia parte daquele ambiente.
Ela agradeceu, e depois disso a única coisa que conseguia perambular pela sua cabeça era aquele par de olhos perturbadores de um homem cujo mistério era intrigante.
No outro dia Maylene estava lá. Esperou ansiosamente por ele, em vão. O homem não apareceu. À noite, no mais pesado do sono, ela sonhara com ele. No sonho, ele entrava de mansinho em seu quarto, ostentando aquele olhar instigante. A meia luz, Maylene deixava se envolver por ele e beijava-o amavelmente. Em certo momento, quando abriu os olhos, ela encontrou no lugar daquele lindo par de olhos, dois buracos negros, duas órbitas vazias, escuras, de onde um liquido vermelho e mal cheiroso escorria até a boca, acompanhado de pequenos vermes.
Maylene despertou do pesadelo com um pulo, e perguntou-se o que era aquilo, quem era aquele homem que agora começava a invadir suas noites.
Por muito tempo o tal homem misterioso invadiu seus sonhos e pensamentos, até que um dia o som da companhia ressoou em seu apartamento. Ao abrir a porta, ela encontrou uma pequena caixa embrulhada num lindo papel de presente. Entrou e sentou no sofá da sala. Ali Maylene desfez o embrulho e abriu a caixa. Seu sorriso resplandeceu ao ver o que ali dentro continha um par de olhos verdes.
A letra, da correspondência era de Maylene, e o embrulho da caixa também tinha sido feito por ela. Ela desejou, para sempre, aquele par de olhos verdes perturbadores, então o que mais poderia fazer para tê-los para si?
O corpo do homem estava em algum lugar... Maylene foi capaz disso: matou o homem, arrancou seus olhos e colocou-os numa caixa delicadamente embrulhada. Por fim, enviou a correspondência para si mesma, e hoje tem como objeto de pecado e desejo, um belíssimo par de olhos verdes que guarda a sete chaves, num lugar onde somente ela sabe onde encontrar.