
Todos nós temos um segredo escondido em algum canto de nossa alma. Esse que aqui relatarei é o meu, e por mais que eu diga que seja a fatia da minha vida mais recheada de infortúnio, ele sempre será o meu desassossegado segredo.
Antes de começar a lhes contar como se inicia a minha morte — sim, digo morte porque a partir daqueles dias as trevas vieram me abraçar e hoje vivo em uma perpétua tumba de segredos, onde uma teia de sonhos impossíveis me consome — quero me apresentar. Chamo-me Clara e moro no sul da Irlanda, onde vivo com minhas três filhas.
Conheci meu esposo aos 16 anos num casamento de uma amiga. Naquela noite eu disse a minha irmã que um dia me casaria com ele. Ela riu e chamou-me de louca. Dias depois, uma das minhas amigas o pediu em namoro e ele aceitou. Tudo havia desabado. Mas, depois de um ano e muitas brigas entre os dois, ele começou a freqüentar minha casa, e um dia, surpreendentemente, ele veio falar comigo. Pediu-me em namoro e eu aceitei. Namoramos por um ano e meio e depois nos casamos. Em menos de dois anos eu já tinha duas filhas e, cerca 2 anos mais tarde, minha filha caçula nasceu.
Vivíamos uma vida sem maiores problemas. Mas, quando eu tive minha terceira filha, os problemas apareceram. Um belo dia ele disse-me que estava apaixonado por outra mulher. Eu me lembro de ter chorado muito. Meu mundo havia caído. No dia seguinte, desesperada, peguei minha filha de 2 anos e cheguei perto da janela do nosso apartamento no 10º andar, e só não pulei por que um anjo tocou a campainha. Minha irmã. Quando ele chegou mais tarde, disse estar arrependido, mas o estrago já estava feito.
Durante os anos que se seguiram eu sofri muito com as traições dele. Aí, com o tempo, vieram outras crises, e finalmente resolvemos nos separar. Foi neste período de separação e dor que conheci outra pessoa e me apaixonei. Com ele vivi dias de muita felicidade e emoção. Nunca havia conhecido alguém tão especial. Vivemos juntos por um ano. Mas, meu ex-marido foi ficando doente, e novamente disse estar arrependido As minhas filhas tinham ficado com ele, pois eu não tinha condições de sustentá-las, e viram ele tentar se matar, situação que obrigou elas a implorarem pelo meu retorno à casa. Ele chegou até a falar em ir embora do país com elas, sem jamais me dar noticias.
Lembro-me bem do dia que eu estava saindo da casa onde eu estava. Era como se eu estivesse indo para um enterro. O meu próprio enterro! Eu não conseguia falar. Fiz as malas, entrei no carro e deixei para trás a única pessoa que realmente amei nessa vida. Durante os anos que se seguiram, minha vida foi um inferno. Fiquei meio amarga e seca. Porém, muita água rolou e nunca tive coragem de lutar pelo que eu queria. Deixei a vida passar e meu marido acabou se tornando apenas meu amigo. Lógico, nunca esqueci o outro e ele também nunca me esqueceu. Às vezes nos falamos, e lá se vão onze anos de amor que nem à distância e o tempo conseguiram diminuir. Já tentei esquecê-lo, mas o destino, ou sei lá o quê, sempre faz com que a gente acabe se encontrando. Sei que tive que escolher entre minhas filhas e o grande amor da minha vida, e eu não podia abandoná-las.
Aprendi a abrir mão dos próprios sonhos por um bem maior. Hoje vivo com este segredo e ninguém entende quando eu derramo lágrimas de repente, como também não entendem quando estou trasbordando de alegria. Talvez um dia minha vida mude novamente, mas até lá vou deixar as coisas acontecerem. Elas sempre acontecem...
OBS: Essa é uma história verídica, mas o nome da protagonista — que a mim relatou a sua história —, é fictício.
3 comentários:
Impossível saber o que vai no coração dos outros.
Linda história.
Te sigo.
Adoreiiii
Passei aqui pra reler...
Parabens!
Bjus
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