sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O ESPANTO DA BELEZA


A beleza de uma mulher feliz sorrindo não se equipara à beleza de uma mulher triste derramando uma lágrima. Foi com essas palavras que conheci Beatrice Aguillar, aquela que seria, por muitos anos, a mulher que faria os meus desejos.


Lembro-me que, na noite em que a conheci, fazia um frio estridente, daqueles que congelam até a memória. Entrei no bar assim que percebi que precisava de alguma bebida. Sentei numa mesa qualquer e esperei o garçom vim me atender. Solicitei um café e, enquanto olhava o vento lúgubre varrer a cidade com sua passagem, de súbito ouvi um leve ruído invadir-me os ouvidos. Olhei em minha volta e nada percebi, mas quando agucei os olhos, surpreendentemente percebi que atrás de mim havia uma salinha, dessas destinadas a fumantes e amantes. Dentro dela, sentada em uma cadeira, adivinhava-se uma silhueta trêmula e triste. Era uma mulher. Uma mulher que chorava lenta e nervosamente.


Levantei e deslizei-me até lá. Em pé, diante dela, proferi apenas uma frase:


A beleza de uma mulher feliz sorrindo não se equipara à beleza de uma mulher triste derramando uma lágrima.


Lentamente ele secou algumas lágrimas que riscavam sua face e foi erguendo a cabeça. Quando me fitou, tive um choque, tamanha era a sua beleza. Contemplei diante de mim aquela boca salgada do choro, aquele rosto com algumas sardas, o cabelo castanho – e não menos diferente –, aquela maravilha de olhar, jogado a mim por um par de olhos verdes tão lindos, que julguei jamais ter outros tão maravilhosos na face da terra. As lágrimas ardiam ao sair de seus olhos, desciam calma e lindamente. Tive que desprender um riso.


— Desculpe-me. Me chamo Beatrice. Beatrice Aguillar — apresentou-se a mim.


O café ficou sobre a minha mesa, esfriando, esperando, contemplando, quiçá, a beleza que eu também contemplava. Foi assim que Beatrice e eu nos conhecemos.


Mas o que quero aqui relatar, em especial, é sobre o dia em que percebi como as mulheres são perfeitas. Certa noite, em sua casa, depois de uma noite de amor ardente, tive a graça de acompanhar, deitado sobre a cama, cada parte de pele do corpo de minha amada. Beatrice saiu do banho com uma toalha branca. Seus cabelos, que tinham mais de encaracolados do que de lisos, estavam caídos sobre seus ombros nus. A água do chuveiro ainda descia pelo seu pescoço, morrendo lentamente em seus seios. Com o rosto lindo, liso, contemplei quando ela abriu o guarda-roupa, ficando de costas para mim. Fitei o fio da coluna onde muitas vezes deslizei minhas mãos, acariciando-a furiosamente, os cabelos que caiam por sobre a toalha, as pernas lisas, e também molhadas, que volta e meia sentiam alguma gota d’agua descer... Eu estava maravilhado com a beleza feminina!


De repente, sem que eu esperasse, Beatrice, ainda de costas para mim, tirou a toalha e jogou-a no chão. Diante de meus olhos externava-se suas lindas nádegas. Fui descendo o olhar pelas coxas, descendo e parando nos pés, onde unhas lindamente pintadas agraciavam meu olhar. Depois, para completar, ela virou-se para mim, deixando-me louco. Que rosto! Quanta beleza, meu Deus! Seus seios igualmente macios, seu ventre liso. Ah, a cintura que tanto segurei, entrelaçando-a com as mãos! Meu olhar foi descendo, descendo, descendo até chegar nas esplendida flor do seu corpo. Não agüentei. Fui caminhando até Beatrice e tomei-a pelo rosto. Uma mão em cada lado, acariciando suas bochechas e fitando seus olhos, sua boa. Sorri e ela me sorriu. Lembrei-me de como tudo é estranho e perguntei-me se, de fato, algum dia realmente ficaríamos juntos, mas esqueci, como num lapso de memória, que essa é um pergunta que ficará perpetuamente sem reposta. Feito isso, soltei:


— Você é a mais pura das belezas, seja sorrindo, seja chorando.



2 comentários:

Losterh disse...

Ah, gostei. Você descreve muito, dá pra visualizar bem as cenas.
Mas tem uma coisa: no começo de um dos parágrafos, você trocou a primeira pessoa pela terceira "Lentamente ele secou algumas lágrimas que riscavam sua face"

Acontece, he.
Achei legal também a beleza da sua personagem, que como a maioria não era loira nem tinha o cabelo liso.

Abraço =D

Anônimo disse...

Nossa Marcelo, muito bom este conto!!!
Parabéns!!! Adorei!!!

Um abraço