segunda-feira, 28 de março de 2011

VISITANTE MACABRO


A chuva finalmente havia dado uma trégua naquela noite, e quando Paolo chegou, depois de ter ficado trabalhando por horas, aproximou-se e percebeu que a porta estava entreaberta. Havia algo estranho, e depois de hesitar, empurrou-a para entrar.


Lentamente ele foi tentando acostumar os olhos àquela penumbra gélida, até conseguir ligar a luz. Ligou. E desejou jamais ter ligado. Seus olhos amaldiçoaram-se ao ver aquele horror. O imenso corredor se abria a sua frente, e marcas de sangue tanto no chão quanto nas paredes, fizeram-no perder o equilíbrio. Aquilo não podia ser verdade! Tentou caminhar mas não conseguia sair do lugar. Levou a mão à boca, e foi ai que observou mais detalhadamente: havia algumas pegadas que saiam da sala. Paolo tomou coragem e mesmo com o semblante inundado em medo, viu-se decidido em ir até lá.


A enorme sala se abria a sua frente. Num canto o seu barzinho e no fundo uma lareira, ambos velando aquela cena maldita de terror. E no meio da sala... lá no meio estava ela. Bia, sua adorável mulher. Paolo a reconheceu pelas roupas. Apenas! Em lágrimas, ele sentiu o chão lhe faltar. Seus olhos só viam sangue, nada mais que sangue.


Não quis mais olhar o estado em que se encontrava sua mulher. Não quis acreditar que aquilo era real. Bia estava sem a cabeça junto ao corpo. Alguém a arrancara. Estava coberta de sangue e não havia sinal de luta, apenas de horror... mais que horror...


De repente ele ouviu um barulho. Era como um gemido estranho, algo prazeroso. Vinha do quarto. Então Paolo levantou e seguiu até lá, pisando sobre o sangue de sua mulher. Quando ficou sob o umbral da porta, de frente para o quarto onde eles muitas vezes promoveram noites quentes de prazer, ele estancou. Nunca tinha visto uma coisa daquelas antes. Aquele demônio prazerosamente comia, no centro do quarto, a cabeça de sua mulher. A criatura tinha facilmente mais de dois metros de altura e em vez de duas, tinha quatro pernas e um rabo que riscava o chão. Das suas costas saiam lanças afiadas, cortantes e destruidoras. Tinha ainda uma cabeça enorme, com chifres pontiagudos e poucos fios de cabelo. Dos seus braços saltavam filetes de sangue e, à medida que aquela coisa ia comendo a cabeça de Bia, gosmas beijavam o chão.


— Quem é você, seu demônio? — ele nunca tremera tanto em sua vida.


Parou! Aquela coisa estancou e lentamente foi virando para Paolo. Sua cara parecia vir o inferno. Abriu a boca e mostrou os enormes dentes, cheios de vestígios dos miolos de Bia. Os tecidos e os nervos de Paolo se enregelaram com tudo aquilo.


— O que você quer... o que fez com ela?


Nunca obteve resposta. Aquela coisa macabra se aproximou dele e, de dentro dela saiu uma enorme navalha que em um só instante decepou a cabeça de Paolo, fazendo-a saltar corredor afora. O seu corpo, conseqüentemente, caiu no chão.


Não era bem oito horas da manhã quando os policiais chegaram na casa do casal. Assim que entraram, de cara viram o corpo de Bia, sem a cabeça.


— Meu Deus! Gente... venham até aqui! — gritou o policial que estava no quarto.


Paolo estava lá. Seu corpo, sem cabeça e numa posição impossível, estava pendurado na parede por estacas gigantes. Uma imagem satânica. Os braços e as pernas haviam sido comidos, e pedaços de carne jaziam dependurados, deixando a mostra os seus ossos. Na região do coração havia um buraco, que deveria ter sido arrancado de um só golpe. Já no seu estômago, tripas saltavam como se fossem cobras saindo do ninho. Havia muito sangue... demais!


Uns policiais vomitaram e outros não quiseram mais ver aquele ritual diabólico. Quando um deles saiu pelo corredor, notou que havia pisado em algo. Não esmagou, apenas sentiu. Era uma coisa verde, com num formato arredondada. Demorou em perceber o que era, mas quando finalmente compreendeu, viu que pisava em um dos olhos de Paolo.


terça-feira, 15 de março de 2011

PREMATURO



O que mais poderia desejar um jovem casal do que um fruto proveniente do seu amor? A notícia veio na hora do jantar. Ele saboreava a comida silenciosamente, e ela, querendo compartilhar aquela informação, permanecia a sua frente, inerte.


— Estou grávida — soltou ela.


De repente tudo ficou parado: o alimento que ele mastigava estancou, e o braço parou no ar quando novamente levaria o garfo à boca. Ele arregalou os olhos. Engoliu em seco aquela noticia e soltou o único talher sobre o prato.


A gravidez iniciou com normalidade. Às vezes ela sentia algumas pontadas, às vezes o estresse a acorrentava a certo ódio. Mas, em outras, e com mais freqüência ela começava a sentir nojo do que carregava em seu ventre. A jovem bela e delicada, começava a engordar, a criar manias e, além disso, a visão de sua barriga causava-lhe certo nojo.


— E como vai o nosso bebe? — perguntou ele, certa vez.


— Nem me fale. Tomara que venha logo essa desgraça, não agüento mais carregar isso dentro de mim como se fosse um incomodo.


Ela, que tanto desejou um filho, começou, pouco a pouco, a não mais o querer. O estresse, o ódio, o rancor e o desejo de fugir, envolveram-na em um manto de negror onde nem a psicologia conseguia explicar. Mas, finalmente chegou o dia de conhecer o sexo do inocente. Deitada na cama, o médico começou a examiná-la e, franzindo o cenho, falou:


— É... é estranho. Não há sinal algum de... lamento. Você não está grávida.


— Como não? — ela se espantou. — E esse meu barrigão de leitoa é o que?


Os meses passaram, e a barriga continuava crescendo. Muitas dores começaram a lhe golpear, e ela sentiu que havia alguma coisa dentro de sua barriga. Mas o que? Seis meses depois da notícia compartilhada à mesa, eles resolveram fazer o que deveria ser feito.


Na sala cirúrgica, os médicos espantaram-se com o tamanho de sua barriga. O marido observava do lado de fora, pelo vidro. E, quando os médicos ia começar a manusear os instrumento, eis que algo sob a pele começava a se mexer. Todos ficaram assustados. Alguma coisa viva queria sair de dentro dela. E, de repente, como se uma navalha interna estivesse trabalhando, seus tecidos foram se rasgando, a barriga foi se abrindo, o sangue foi escorrendo, e algumas vísceras começavam a aparecer. Mas foi quando a barriga se abriu de uma maneira impossível, que o espanto e o horror os invadiu.


Das entranhas daquela bela e amaldiçoada jovem, uma figura monstruosa assaltava aos seus olhos dos presentes. Aquilo que se externava tinha a pele vermelha, não pelo sangue, mas por alguma outra coisa. Os olhos gigantes, quase do tamanho da cabeça não eram horizontais, mas sim, verticais. A boca continha dentes afiados e eram para fora, assim como as orelhas. No couro cabeludo, a criatura ostentava apenas alguns fios de cabelo. As mãos, tão enormes quanto a cabeça, tinha três dedos afilados e afiados como navalha. As pernas sim, eram pequenas, e continha pés de nadador, sem dedos. Quando falou, fez gelar o sangue de todos. Era o horror em pessoa.


— É o demônio — disse um médico.


O marido não acreditava no que via. Fechou os olhos e apenas escutou o terror e o pesadelo acontecer ali dentro. Quando voltou a abri-los, viu o massacre que a criatura havia feito. Todos ali estavam mortos, decepados, fatiados como pão. A sala branca agora estava vermelha de sangue e resto de corpos. E o filho que ela sempre desejou, e que passou, com o tempo, a não querer mais, havia desaparecido — ou voltado para as sombras do inferno.


Dentro da sala, a única alma viva era a da jovem.