
Com o tempo, quem entende do assunto, começa a compreender que o grande erro da maioria dos escritores é ter em mente que escrever é algo que deve ser feito para que os outros leiam, quando na verdade esquecem que a verdadeira arte de escrever consiste em fazê-lo pelo simples prazer de mergulhar em um mundo seu, um mundo íntimo, e que as leituras são uma simples conseqüência pelo seu esforço e dedicação, um valor auferido àquilo que suas palavras conseguiram transmitir.
Alguns escritores nutrem algumas inspirações, sem as quais é difícil continuar escrevendo. Esse é o caso de Eddie, um escritor cujos livros lhe renderam bons níveis de renda, e cuja fama não mais lhe agrada como nos primeiros passos de sua carreira. Suas palavras sempre foram frutos de uma mágica inspiração: uma mulher que jamais chegou a beijar e a ter em seus braços. Seu nome era Catherine, uma dama de traços finos, bondade aos montes e beleza aos milhares. Ela perambulava em seu pensamento, povoava seus sonhos e era retratada em suas frases. Nem mesmo ele soube explicar o que, de fato, tornava Catherine tão especial e diferente.
– Eu não consigo entender... – disse Eddie certa vez a um amigo – Eu só consigo escrever quando penso nela. É impressionante, parece uma droga, uma praga, uma doença. É como se as coisas... os livros que eu escrevo, dependessem dela.
– Tem certeza que você não está apaixonado?
– Mas como poderia? – soltou Eddie, devolvendo o copo à mesa. – Como poderia estar apaixonado sem nunca tê-la tocado, falado com ela... Bom, realmente não sei se isso é estar apaixonado como você diz, mas o fato é que é algo muito estranho.
Existe alguma fonte inspiradora para cada escritor? Existe alguma pessoa ou coisa capaz de fazer as letras deslizarem pela ponta da caneta e caírem preguiçosamente no papel? No caso de Eddie, sem sombras de dúvidas sim, e a sua fonte inspiradora tinha nome e beleza, e se chamava Catherine, uma mulher encantadora.
Algumas noites depois da conversa com o amigo, Eddie se viu perturbado durante a madrugada. Visões o perseguiam e a insônia o mantinha acordado, fazendo-o andar de um lado para o outro, naquela sensação estranha de que alguma coisa talvez pudesse estar acontecendo. Nessa mesma noite, onde a chuva e os raios o acompanhavam nessa dolorosa luta, tardou a dormir. E, o que tinha sido ruim, veio a se intensificar com a chegada do amanhecer, que trouxe, além da névoa fria e densa, a notícia da morte de Catherine. A causa de sua morte ninguém nunca soube, pois fora achada sem vida, em seu leito, misteriosamente inerte, como se estivesse dormindo.
Eddie se viu abandonado, sem outras inspirações. Derramou lágrimas de dor por dias a fio e pelos mesmos dias não conseguiu escrever. Toda vez que fazia menção em começar algum texto, uma sensação estranha o percorria, uma negror nublava sua visão e nada vinha em sua cabeça. Ele não conseguia mais escrever, e somente pensava na morte de Catherine. Por meses, anos, ficou sem escrever uma única palavra sequer. Não tinha por que escrever, e fazê-lo não mais lhe dava prazer. Escrever havia se tornado uma tortura, por isso, até seus últimos dias, desde a morte da sua inspiração, Eddie nunca mais escreveu, e morreu sem escrever uma palavra a mais.
Sua morte aconteceu exatamente seis anos depois que Catherine o deixou, literalmente, sem palavras. O escritor suicidou-se, jogando-se de um desfiladeiro como se estivesse se entregando às sombras, quando na verdade estava enterrando a dor, extraindo de sua alma aquele remorso que o percorria.
As palavras são escritas sempre com o retrato de alguma inspiração e pelo simples prazer de escrever; quando assim não for, um escritor está condenado a morrer com a sua vaidade e com o seu remorso presos a um coração enganador, cheio de tristezas e desilusões.