sábado, 19 de novembro de 2011

UM AMARGO SABOR DO DESTINO


– Será que... bem... será que posso convidar você para uma xícara de café? – Essa foi a primeira reação que tive quando a vi. Há anos havíamos deixado de nos falar, mas em nenhum momento desses anos deixei de tê-la em minha mente. Sempre me perguntei qual seria a minha reação quando a visse, e o simples convite para saborear uma xícara de café foi o que me veio à mente. Seria essa a melhor das reações? Isso eu não sei dizer, mas foi a mais sensata das coisas.

Ela somente balançou a cabeça afirmativamente. Meu coração acelerava pela segunda vez em minutos. Em meio à multidão da rua, começamos a caminhar. Entramos em um pequeno Café, cheio de executivos, casais, pessoas bebendo nostalgia e... nós. Sentamos na janela. Um de frente para o outro. Ela finalmente falou.

– Por que agora? – seu semblante estava sério.

– Como assim? – perguntei, me fazendo de idiota, pois eu sabia que a pergunta era óbvia. O que nos separou foi algo tolo, uma coisa que até hoje não entendemos. Sempre nos amamos, mas o tempo e a vida deram um jeito de nos separar.

– Não sei se devemos conversar. Receio que não devíamos estar aqui...

Perguntei por que e ela me respondeu, cravando um punhal em meu peito. Respondeu-me que estava tendo um caso com outro homem, que adorava ele, se sentia feliz e que tudo o que ela precisava podia encontrar nele. Eu fiquei sem palavras.

– Eu sempre te amei – foi o que, minutos depois, consegui falar.

– Tem certeza?


– Nunca tive tanta certeza nessa vida – fiz uma pausa, e metralhei: – Olha, desde que paramos de nos ver, minha vida tem sido uma droga. Tenho saído com amigos? Sim. Tenho tido prazeres com outras mulheres? Sim. A vida e o tempo não param para nos ver passar, e tudo o que faço e fiz é uma maneira inútil de me manter vivo. Sabe por quê? Porque a minha vida está acondicionada a sua. Eu acordo de manhã pensando em você, almoço pensando em você e durmo pensando em você. Os momentos de solidão são torturas para mim, pois imagino você ao meu lado, me beijando, brincando comigo, deitada na minha cama, acordando... – respirei, tentando não demonstrar o que por dentro estava se tornando cada vez mais forte. – Eu conheço muitas mulheres, sabia? E quanto mais às conheço mais vejo que o mundo não me oferecerá nada melhor do que você. Enquanto aqui estamos juntos o meu coração não para de acelerar...

Baixei a cabeça. Permaneci com as lágrimas presas nos olhos. Chorar agora seria sinal de fraqueza. Quando ergui os olhos quem chorava era ela, mas continuava seria.

– E por que somente agora...? – sua voz estava embargada.

– Não sei... simplesmente não sei.

– Eu gosto da pessoa com quem estou, ele me faz bem. Mas... – ela começou a chorar. – Sempre esperei que um dia você viesse me buscar, me procurar. Fiquei esperando você, e quando percebi que o tempo passava e que você não aparecia, compreendi que não queria mais nada comigo. Tive que me contentar com esse desprezo. Então agora que estou bem, feliz, você aparece para... para... deixar confusa.

– Eu tenho uma proposta para lhe fazer: quero que vá embora comigo. O que acha? Não precisa responder agora. Tem dois dias. Esperarei aqui, neste mesmo local e horário. Se você não vir, entenderei que não quer nada comigo e que a nossa história terá um fim, como tantas outras histórias – olhei fixo para ela, que concordando, saiu.

Dois dias depois eu entrei naquele Café com o coração acelerado, mas ela nunca apareceu. Não sei por que tudo aquilo aconteceu e nem a que ponto chegou, mas o que está destruído na vida, não estará no meu coração. Levantei e sai com lágrimas nos olhos, mas com a cabeça erguida, tentando entender esse amargo sabor do destino.


sábado, 5 de novembro de 2011

O ESTRANHO QUARTO DO HOTEL


Ainda era noite quando cheguei, acompanhado não só da garoa fina, mas de um frio atrevido que insistia em me deixar desconfortável. Quando coloquei os pés dentro daquele hotel, logo percebi que algo diferente ali reinava, e depois de dar entrada na recepção, recebi a chave do quarto e o auxilio de um recepcionista.

— O senhor pega a direita, depois a esquerda e vai sair no elevador.

Agradeci. O trajeto até o elevador pareceu-me sombrio, e nada além de um tapete velho e quadros estranhos me acompanhavam. Logo que entrei no elevador, uma imagem perturbada me recepcionou, e foi ai que percebi como o meu cabelo estava desgrenhado e como a minha expressão demonstrava tensão. O reflexo no espelho me causou certo medo.

Quando o elevador estacionou no sétimo andar e abriu, aliviei-me por estar cada vez mais perto do quarto. O silêncio era absoluto. Um corredor enorme se apresentou diante dos meus olhos, parecia infinito, como se fosse uma passagem para o inferno. Havia quartos dos dois lados, flores murchas e quadros velhos que pendiam das paredes, cuja sensação me fazia ouvir o sussurrar de alguma coisa. Apertei o passo até achar o meu quarto, então, de repente, ali estava eu diante dele. Quarto 777.

Abri a porta e senti o cheiro desagradável e embolorado que exalava daquele cômodo, e a primeira coisa que vi foi um abajur que projetava uma luminosidade cor de âmbar. Ao fundo, avistei uma janela sem cortina. Fui até lá e observei o clima. Chovia mansamente. Formas estranhas e fantasmagóricas eram produzidas pelas árvores, com o auxilio do vento e da luz amarela dos postes da rua. Tentei dormir, mas o silencio torturante e as sombrias formas que entravam pela janela me causavam algo que não sei explicar. O quarto parecia-me um lugar em trevas. Por sorte, depois da insônia, adormeci.

Pela manhã, perto do meio dia, desci e sentei e uma das poltronas do bar do hotel, onde solicitei uma taça de vinho para abençoar o meu apetite. Não fiquei mais que dez minutos sem que pudesse ver uma estranha movimentação. Os recepcionistas do hotel começaram a subir pelas escadas e pelo elevador, e pessoas começavam a se perguntar o que estava acontecendo. Sentindo-me perturbado, vi quando policiais e enfermeiros entraram pela porta principal e subiram pelo elevador. O caos estava instalado.

— Sétimo andar! — gritou um dos recepcionistas.

As palavras me pegaram de surpresa. Era o meu andar. Bebi o último gole de vinho de um trago só e fui até a recepção tentar saciar a minha curiosidade.

— O que está acontecendo? — perguntei.

— Um hóspede foi encontrado morto no sétimo andar.

— Qual quarto?

— 777 — respondeu ele, fazendo a minha respiração parar.

Como podia alguém ter sido encontrado morto no quarto onde eu estava? Sentindo meu coração pular de tensão, corri escada acima e quando cheguei no sétimo andar, uma pequena multidão se aglomerava em frente à porta do quarto 777. Todos estavam lá. Perguntei o que tinha acontecido, mas pareciam estar me ignorando. Resolvi, então, abrir caminho entre eles até entrar no quarto. Quando consegui, não acreditei no que vi. Na cama, coberto de sangue, estava um corpo que parecia ser o meu. Mas como?

Perguntei-me o que era tudo aquilo. Percebi que ninguém notava a minha presença. Seria um pesadelo? Entrei no banheiro. O espelho não me devolveu reflexo algum. Minha imagem não existia! Estaria eu morto? Sai sem ser notado, e no bar percebi que a taça de vinho não mais estava sobre a mesa, o que fez me perguntar se ela, de fato, esteve ali, ou, mais assustador ainda, se eu, realmente, estive sentado naquela mesa algum dia.