
Ela somente balançou a cabeça afirmativamente. Meu coração acelerava pela segunda vez em minutos. Em meio à multidão da rua, começamos a caminhar. Entramos em um pequeno Café, cheio de executivos, casais, pessoas bebendo nostalgia e... nós. Sentamos na janela. Um de frente para o outro. Ela finalmente falou.
– Por que agora? – seu semblante estava sério.
– Como assim? – perguntei, me fazendo de idiota, pois eu sabia que a pergunta era óbvia. O que nos separou foi algo tolo, uma coisa que até hoje não entendemos. Sempre nos amamos, mas o tempo e a vida deram um jeito de nos separar.
– Não sei se devemos conversar. Receio que não devíamos estar aqui...
Perguntei por que e ela me respondeu, cravando um punhal em meu peito. Respondeu-me que estava tendo um caso com outro homem, que adorava ele, se sentia feliz e que tudo o que ela precisava podia encontrar nele. Eu fiquei sem palavras.
– Eu sempre te amei – foi o que, minutos depois, consegui falar.
– Tem certeza?
– Nunca tive tanta certeza nessa vida – fiz uma pausa, e metralhei: – Olha, desde que paramos de nos ver, minha vida tem sido uma droga. Tenho saído com amigos? Sim. Tenho tido prazeres com outras mulheres? Sim. A vida e o tempo não param para nos ver passar, e tudo o que faço e fiz é uma maneira inútil de me manter vivo. Sabe por quê? Porque a minha vida está acondicionada a sua. Eu acordo de manhã pensando em você, almoço pensando em você e durmo pensando em você. Os momentos de solidão são torturas para mim, pois imagino você ao meu lado, me beijando, brincando comigo, deitada na minha cama, acordando... – respirei, tentando não demonstrar o que por dentro estava se tornando cada vez mais forte. – Eu conheço muitas mulheres, sabia? E quanto mais às conheço mais vejo que o mundo não me oferecerá nada melhor do que você. Enquanto aqui estamos juntos o meu coração não para de acelerar...
Baixei a cabeça. Permaneci com as lágrimas presas nos olhos. Chorar agora seria sinal de fraqueza. Quando ergui os olhos quem chorava era ela, mas continuava seria.
– E por que somente agora...? – sua voz estava embargada.
– Não sei... simplesmente não sei.
– Eu gosto da pessoa com quem estou, ele me faz bem. Mas... – ela começou a chorar. – Sempre esperei que um dia você viesse me buscar, me procurar. Fiquei esperando você, e quando percebi que o tempo passava e que você não aparecia, compreendi que não queria mais nada comigo. Tive que me contentar com esse desprezo. Então agora que estou bem, feliz, você aparece para... para... deixar confusa.
– Eu tenho uma proposta para lhe fazer: quero que vá embora comigo. O que acha? Não precisa responder agora. Tem dois dias. Esperarei aqui, neste mesmo local e horário. Se você não vir, entenderei que não quer nada comigo e que a nossa história terá um fim, como tantas outras histórias – olhei fixo para ela, que concordando, saiu.
Dois dias depois eu entrei naquele Café com o coração acelerado, mas ela nunca apareceu. Não sei por que tudo aquilo aconteceu e nem a que ponto chegou, mas o que está destruído na vida, não estará no meu coração. Levantei e sai com lágrimas nos olhos, mas com a cabeça erguida, tentando entender esse amargo sabor do destino.