sábado, 5 de novembro de 2011

O ESTRANHO QUARTO DO HOTEL


Ainda era noite quando cheguei, acompanhado não só da garoa fina, mas de um frio atrevido que insistia em me deixar desconfortável. Quando coloquei os pés dentro daquele hotel, logo percebi que algo diferente ali reinava, e depois de dar entrada na recepção, recebi a chave do quarto e o auxilio de um recepcionista.

— O senhor pega a direita, depois a esquerda e vai sair no elevador.

Agradeci. O trajeto até o elevador pareceu-me sombrio, e nada além de um tapete velho e quadros estranhos me acompanhavam. Logo que entrei no elevador, uma imagem perturbada me recepcionou, e foi ai que percebi como o meu cabelo estava desgrenhado e como a minha expressão demonstrava tensão. O reflexo no espelho me causou certo medo.

Quando o elevador estacionou no sétimo andar e abriu, aliviei-me por estar cada vez mais perto do quarto. O silêncio era absoluto. Um corredor enorme se apresentou diante dos meus olhos, parecia infinito, como se fosse uma passagem para o inferno. Havia quartos dos dois lados, flores murchas e quadros velhos que pendiam das paredes, cuja sensação me fazia ouvir o sussurrar de alguma coisa. Apertei o passo até achar o meu quarto, então, de repente, ali estava eu diante dele. Quarto 777.

Abri a porta e senti o cheiro desagradável e embolorado que exalava daquele cômodo, e a primeira coisa que vi foi um abajur que projetava uma luminosidade cor de âmbar. Ao fundo, avistei uma janela sem cortina. Fui até lá e observei o clima. Chovia mansamente. Formas estranhas e fantasmagóricas eram produzidas pelas árvores, com o auxilio do vento e da luz amarela dos postes da rua. Tentei dormir, mas o silencio torturante e as sombrias formas que entravam pela janela me causavam algo que não sei explicar. O quarto parecia-me um lugar em trevas. Por sorte, depois da insônia, adormeci.

Pela manhã, perto do meio dia, desci e sentei e uma das poltronas do bar do hotel, onde solicitei uma taça de vinho para abençoar o meu apetite. Não fiquei mais que dez minutos sem que pudesse ver uma estranha movimentação. Os recepcionistas do hotel começaram a subir pelas escadas e pelo elevador, e pessoas começavam a se perguntar o que estava acontecendo. Sentindo-me perturbado, vi quando policiais e enfermeiros entraram pela porta principal e subiram pelo elevador. O caos estava instalado.

— Sétimo andar! — gritou um dos recepcionistas.

As palavras me pegaram de surpresa. Era o meu andar. Bebi o último gole de vinho de um trago só e fui até a recepção tentar saciar a minha curiosidade.

— O que está acontecendo? — perguntei.

— Um hóspede foi encontrado morto no sétimo andar.

— Qual quarto?

— 777 — respondeu ele, fazendo a minha respiração parar.

Como podia alguém ter sido encontrado morto no quarto onde eu estava? Sentindo meu coração pular de tensão, corri escada acima e quando cheguei no sétimo andar, uma pequena multidão se aglomerava em frente à porta do quarto 777. Todos estavam lá. Perguntei o que tinha acontecido, mas pareciam estar me ignorando. Resolvi, então, abrir caminho entre eles até entrar no quarto. Quando consegui, não acreditei no que vi. Na cama, coberto de sangue, estava um corpo que parecia ser o meu. Mas como?

Perguntei-me o que era tudo aquilo. Percebi que ninguém notava a minha presença. Seria um pesadelo? Entrei no banheiro. O espelho não me devolveu reflexo algum. Minha imagem não existia! Estaria eu morto? Sai sem ser notado, e no bar percebi que a taça de vinho não mais estava sobre a mesa, o que fez me perguntar se ela, de fato, esteve ali, ou, mais assustador ainda, se eu, realmente, estive sentado naquela mesa algum dia.

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