sábado, 25 de fevereiro de 2012

TODO CARNAVAL TEM SEU FIM



O sol desponta preguiçoso, resplandecendo um alvorecer com cara de ressaca, como se a noite que passou deixasse um rastro de saudade. Agora, enquanto o sol lentamente demorar a despertar, passos leves e sutis caminham por entre uma ruela qualquer. O som barulhento dos tamborins, clarinetas e bumbos, que outrora construíam canções de alegria juntamente com trompetes e trombones, agora dão lugar ao silêncio seco e vazio de um dia em festa que já passou.

Ele anda na extrema solidão, os sapatos são a única canção que algum ouvido pode ouvir àquela altura da manhã. No corpo, a veste doce de uma fantasia que soube preencher as noites com felicidade. O homem, cuja relação entre ele e o que acabou de acontecer, não há de morrer tão logo, desce as ladeiras com seu chapéu na mão, cabeça baixa e ébrio de prazer e de furtivas lembranças e saudades. No chão, confetes e serpentinas se confundem com os sapatos velhos do homem triste que há poucas horas atrás jogava os mesmos confetes e serpentinas para o alto, num júbilo a mais nobre festa popular que, chamada de carnaval, sem que possamos pensar, sempre tem seu fim.


O bloco passou e a banda já tocou o samba empolgante que agitou os corações. Os beijos foram dados, as náuseas foram atropeladas e o ar que sempre levantou as multidões, agora acabou. Tudo acabou!

Assim, todo carnaval tem seu fim! Quer tenha sido bom, quer tenha sido ruim.

Na praia, no campo, sala ou salão, ruas e avenidas e até quem não saiu do chão. A festa do momo, do que bem quer e do que quer mal também, ao que pulou e correu e ao que em casa ficou, assim como quem nada quer.

Mas ele continua caminhando. Suas noites de alegrias, risos e alguma coisa a distrair a cabeça passaram. O colorido se foi, o sonho maravilhoso se foi e se foi também toda a multidão que por aqui já passou. A cabeça baixa traduz o sentimento que agora o completa: vazio. É como se algo faltasse. E de fato, falta. E faltará. Faltará a chuva de papéis, o samba-enredo, o batuque sem fim, a cerveja gelada na esquina, o ritmo acelerado dos sapatos ao dançar no tom, as damas, as chamas, as colombinas... ah, as colombinas, essas muita falta farão...

Lentamente o sol esbraveja-se no ar. A rua que até pouco tempo jazia escura, agora se preenche de luz, que acompanha com afinco os passos de mais um folião. E ele continua descendo rumo ao seu destino. Passos fracos, boca seca e talvez com os olhos quase se fechando, rendendo-se ao sono que está prestes a vir lhe pegar. Que seja assim o final da última noite de alegria... mas de repente, o coração tão curtido na folia, olha para o lado e descobre um casal, no portão de uma humilde casa. O moço, tão disposto, acaricia o lindo cabelo dela, que se rende encantadoramente aos encantos dele. Decerto acabaram de chegar em casa também, vindo do seu nobre carnaval, e assim então quisera Deus, que esse fosse o destino desse jovem casal. A moça o abraça e ele a surpreende com um beijo. Aos sons dos seus sapatos e olhando o que não queria, o pierrot se lembra da noite passada, e da colombina, que lembrar nem deveria.

O pierrot chora, foi-se ao longe o que lhe encantou... quisera ela um arlequim, numa noite sem fim? A lágrima escorrega, agora já passou o tempo de recordar.

Ah, se o carnaval fosse o ano inteiro! Mas, assim como a vida, ele não é pra sempre. O seu final, porém, até pode ser confundido largamente com uma morte, mas uma morte que faz ressuscitar a cada ano os gritos de canto em festa, de sons de orquestra, e de barulho de cortinas, quando se inicia uma nova peça.

Os sapatos silenciaram. Tudo acalmou. Dorme, descanse, afinal, o carnaval já terminou. Agora nasce um novo dia, um novo ano ressurge, tanto pra você quanto pra mim, mas quanto à folia, é inevitável dizer, pois todo carnaval tem seu fim.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

VARAL DE CABEÇAS


Ser motivo de piadas nem sempre é tão saudável assim, e é conhecendo a história de Beni McCarthy que se descobre que existem coisas mais horripilantes do que a gente imagina, e que quando pensamos que já vimos de tudo, a vida mostra que não...

Desde a infância Beni era chamado de “Cabeção” pelos seus colegas. No inicio de sua vida, ter esse apelido não o incomodava, mas com o passar dos tempos alguma coisa fez com que essa brincadeira começasse a perambular sua mente e a incomodá-lo por completo. No ensino médio, o apelido Cabeção era freqüentemente ouvido pelos corredores da escola, e Beni começava a perder a paciência. Gordo, com poucos amigos, e com uma cabeça relativamente grande, ele apenas absorvia aquele apelido sem fazer nada, retraindo uma raiva e uma súbita vingança.

Certo dia a porta da sala do delegado Max foi aberta de repente. Um dos policiais informava que um corpo tinha sido encontrado sem a cabeça na escola municipal. As investigações começaram naquele exato momento. Três dias depois, uma professora da escola entrou na sala de aula e se apavorou com o que viu. Outro corpo sem cabeça estava caído próximo ao quadro negro. Ela imediatamente chamou a policia. Porém, o mistério dos corpos sem cabeça não parou por ai. Em menos de três semanas, cinco corpos foram encontrados sem cabeça. Era um enigma que os intrigava.

Quando um sexto corpo foi encontrado, outro mistério começou a perambular pela cidade: o jovem Beni McCarthy estava desaparecido há alguns dias. Um turbilhão de dúvidas começou a pairar pelo ar, e no meio das investigações, um professor relatou que Beni era chamado de Cabeção pelos colegas, fato este que até então era desconhecido pela polícia. Os pais do garoto não conseguiam entender o porque...

Numa manhã de outono, o delegado Max conversava com uma senhora que relatava a ele que, na noite anterior, vira um menino perambulando pelas ruas e que parecia ser Beni. A conversa parecia importante para o caso, quando de repente um policial abriu a porta da sala, informando sobre mais uma peça no quebra-cabeça.

– Delegado – o policial parecia ofegante –, mais um corpo foi encontrado sem a cabeça essa manhã. Estava perto da velha usina, num terreno baldio, esquina do Luts.

Luts era um dos bares da cidade. Intrigado, Max olhou para a mulher.

– Foi próximo ao Luts que você supostamente viu o menino?

– Sim, delegado, foi próximo a esse bar mesmo.

Max dispensou a senhora e as investigações foram retomadas. À noite, porém, um telefonema anônimo perturbou a noite do delegado. Do outro lado da linha, uma voz fantasmagórica indicava um local, e dizia que lá o mistério chegaria ao final.

Rapidamente Max mobilizou todo o seu pessoal e correu para a usina. Várias viaturas foram para lá, e assim que chegaram, começaram a procurar. No final da ala leste da construção abandonada, um policial viu um bilhete pendurado na parede. Nele lia-se: olhe para a direita. Todos viraram. Foi arrepiante! O que viram foi um varal de metal, estendido de uma coluna a outra. Penduradas nele, em vez de roupas, estavam todas as seis cabeças que haviam desaparecido junto aos corpos. Era uma cena assustadora. As cabeças foram reconhecidas, e chegou-se à conclusão de que pertenciam a todos os corpos encontrados. Mas tudo aquilo deveria ter um motivo...

– Quem fere será ferido... aí está o resultado pelo que eles me fizeram.

No segundo andar, acima das cabeças, estava o jovem Beni McCarthy, todo sujo, parecendo um indigente. O pessoal tentou convencê-lo a descer e se entregar, mas não adiantou, essa seria a sua sentença. Do teto central da usina jazia amarrada uma corda grossa que ia ao encontro de Beni. Ele não disse mais nenhuma palavra, simplesmente firmou a corda em seu pescoço e deu o passo para a morte. Todos ficaram boquiabertos. Beni, depois de matar seis jovens, arrancar suas cabeças, pendurá-las em um varal de metal, agora terminava com sua vida. Suicidara-se de forma triste.

O corpo do jovem McCarthy balançava como um pêndulo no centro da usina.