domingo, 22 de abril de 2012

VENHA AMIGO, ENTRE E CONTEMPLE ESSAS PALAVRAS



Veja bem, como a vida passa, não é?
O sol nasce e vai, a chuva cai
E o dia em suor dá espaço para a noite frívola.
Cá esta sendo redigida esta poesia
Então entre, sente-se e sinta-se a vontade.
Aceita uma xícara de café? Um chá? Um uísque?
Vamos nos embebedarmos de palavras de conforto...
Olhe a nossa volta, ali o fogo arde,
O perfume de tempos infinitos se exala.
Onde está o meu, o seu, o nosso amor?
Quantas vezes rimos e fizemos lágrimas rolar?
É impressionante como os fantasmas
Do passado vem nos infernizar.
São tantas lembranças...
Compreenda, mesmo ébrio então,
Que o poeta nunca morrerá, e isso há de se saber
E mesmo que o seu amor um dia se vá,
(Tão estranha há de ser o quebrar do coração)
De sua alma o amor jamais fugirá.
Esta tão fortuna e fiel a nossa conversa...
Bebemos canções que lembram faces
Lemos livros que cheiram histórias
Veja como é linda a noite!
Ela é fácil de fazer inspirar...
Engana, assombra, e na cama faz o espírito florear.
A caneta que aqui desliza já escreveu e já parou
E da amada nunca deixou de recordar.
Olhe as ruas vazias, há fantasmas a vagar a esmo
Nos assombram em sonhos decadentes...
Que tal fazermos um pacto de jamais deixar de sonhar?
Perceba, meu caro amigo, quão belo foram os infortúnios...
Não voltaria atrás por arrependimento.
Antes morreria, se a vida aquilo não tivesse me concedido.
Agradeço por ouvir-me, contemplar-me as palavras
E servir de platéia para as passagens da vida.
Sirva-se dessa bebida, entenda que ela jamais me abandonou
E como amante furtivo, serviu-me de forte agrado
Assim como as penumbras, estrelas, tormentas.
Veja estes livros na prateleira, e esta carta que estendo a você
É um pouco do punhado dos versos que escrevi
Não pra mim, nem pra você, mas para alguém...
Confesse que sabes de tudo! Confesse!
O que é esta vida senão algo em ruínas?
Um amontoado interminável e perpétuo de memórias em escombros.
Os amores perdidos, os sonhos quebrados, a saudade...
A maturidade nos fornece entendimentos cúmplices
Para percebermos que a vida é como um trem:
Nós o conduzimos, e cada vagão é uma época.
As estações são os momentos vividos,
E os trilhos por onde passamos é o destino
Que nos leva para onde não imaginamos ser levados...

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O LAÇO PERFUMADO DE UMA NOITE CÚMPLICE


O taxi mergulhou numa rua totalmente estranha aos olhos de Karlos. Mas era um estranho que estava deixando-o maravilhado, devido à beleza extrema e singular daquela ruazinha. Estreita, aconchegante e cheia do verde das árvores na calçada, aquela pequena rua seria telespectadora de uma noite de louvores e dramas.

Karlos estava ali para o sabor de um encontro casual. Sabia que a artimanha de valer-se da noite para promover esse fato fortuito, evitaria dissabores futuros e inconveniências irremediáveis. Portanto, armando de sua astuciosa veia de cuidado, ele atravessou a rua e rapidamente ergueu os olhos para visualizar a fachada azulejada do pequeno apartamento de Maria Luisa, a dama secreta daquela noite ímpar.

Quando foi subindo as escadas, um turbilhão de pensamentos veio de encontro a sua cabeça, mas quando suas vistas capturaram a silhueta daquela mulher, a sensação de bem-estar e prazer subitamente invadiu a alma de Karlos. Entrou no apartamento e sentiu uma saborosa mistura de odores virem de encontro aos seus sentidos e, depois de se embriagar de perfumes e essências, sentou-se no sofá. Ali, o diálogo andou como um trem vagaroso sobre trilhos quentes de uma cidade noturna.

Enfim, depois de uma conversa à luz âmbar de uma pequena luminária, eis que os lábios apreciaram o frio sabor da cerveja, que seria parte integrante daquela noite. Risos frouxos se externaram, brincadeiras simples apareceram. Penumbra. Mas estariam eles á sós? Onde estariam os fantasmas da noite? Talvez escondidos em algum mínimo lugar, trancafiados dentro de algum armário ou observando-os a espreita? Afinal, teriam os fantasmas participação naquela noite?

O sangue parecia ferver e correr demasiadamente rápido nas veias tanto de Karlos quanto de Maria Luisa. A madrugada era anunciada e o alvorecer logo daria as cartas para mais um dia de incessantes afazeres. E ali eles. Um passado distante os abraçava, um passado desenfreado voltava com tudo diante de seus olhos. Amantes! Antigos e indecifráveis amantes, doando um ao outro a parcela vivida de carinho, e fazendo bem a quem, quiçá, jamais deixou de querer fazê-lo.

No alto das horas e no berço da calmaria, duas faces se entreolharam na penumbra. A TV jazia ligada, em baixo tom, servindo de testemunha para o inevitável beijo que logo fez arder entre Karlos e Maria Luisa. Tocaram-se os lábios com a mesma delicadeza com que alguém manuseia algo de importante teor. Seus olhares se cruzaram em seguida, não havia como não recordar as fatias do passado. Mas os beijos continuaram, o calor do momento começou a ferver e a decisão de ir até o fim talvez servisse de escárnio para o desgostoso destino, revivendo um drama cruel e desaforado, porém sempre certeiro.

Caíram em confissões, abraços e canções. Carinho, sentimento de querer estar ali, junto, naquele instante eterno. As mãos acariciando toda a superfície da pele, os lábios beliscando a face, e o álcool descansando ao lado da cama.

O sentimento é bom, bebido com minuciosa calma, sem pressa. A conclusão, então, é recíproca: corre entre eles o elo eterno de cumplicidade.

As estrelas abandonaram o barco, e o sol subiu a bordo. Era a hora da despedida. Abraços, beijos, ânsia de alguma coisa ilógica. Na porta, entre o interior do prédio azulejado e a rua maravilhosamente linda, Karlos e Maria Luisa proferem o último beijo da noite. Uma ultima olhadela e a porta se fechou. O taxi o esperava.

O que restou da noite? Muito mais que uma noite, uma sensação prazerosa, uma vontade recíproca de estar junto e de querer o abraço e o beijo novamente. É, talvez sim... Maria Luisa entrou em seu apartamento, e Karlos no taxi. Não era a primeira, e não seria a última vez do encontro, disso até os fantasmas tinham certeza.