domingo, 22 de abril de 2012
VENHA AMIGO, ENTRE E CONTEMPLE ESSAS PALAVRAS
segunda-feira, 9 de abril de 2012
O LAÇO PERFUMADO DE UMA NOITE CÚMPLICE

O taxi mergulhou numa rua totalmente estranha aos olhos de Karlos. Mas era um estranho que estava deixando-o maravilhado, devido à beleza extrema e singular daquela ruazinha. Estreita, aconchegante e cheia do verde das árvores na calçada, aquela pequena rua seria telespectadora de uma noite de louvores e dramas.
Karlos estava ali para o sabor de um encontro casual. Sabia que a artimanha de valer-se da noite para promover esse fato fortuito, evitaria dissabores futuros e inconveniências irremediáveis. Portanto, armando de sua astuciosa veia de cuidado, ele atravessou a rua e rapidamente ergueu os olhos para visualizar a fachada azulejada do pequeno apartamento de Maria Luisa, a dama secreta daquela noite ímpar.
Quando foi subindo as escadas, um turbilhão de pensamentos veio de encontro a sua cabeça, mas quando suas vistas capturaram a silhueta daquela mulher, a sensação de bem-estar e prazer subitamente invadiu a alma de Karlos. Entrou no apartamento e sentiu uma saborosa mistura de odores virem de encontro aos seus sentidos e, depois de se embriagar de perfumes e essências, sentou-se no sofá. Ali, o diálogo andou como um trem vagaroso sobre trilhos quentes de uma cidade noturna.
Enfim, depois de uma conversa à luz âmbar de uma pequena luminária, eis que os lábios apreciaram o frio sabor da cerveja, que seria parte integrante daquela noite. Risos frouxos se externaram, brincadeiras simples apareceram. Penumbra. Mas estariam eles á sós? Onde estariam os fantasmas da noite? Talvez escondidos em algum mínimo lugar, trancafiados dentro de algum armário ou observando-os a espreita? Afinal, teriam os fantasmas participação naquela noite?
O sangue parecia ferver e correr demasiadamente rápido nas veias tanto de Karlos quanto de Maria Luisa. A madrugada era anunciada e o alvorecer logo daria as cartas para mais um dia de incessantes afazeres. E ali eles. Um passado distante os abraçava, um passado desenfreado voltava com tudo diante de seus olhos. Amantes! Antigos e indecifráveis amantes, doando um ao outro a parcela vivida de carinho, e fazendo bem a quem, quiçá, jamais deixou de querer fazê-lo.
No alto das horas e no berço da calmaria, duas faces se entreolharam na penumbra. A TV jazia ligada, em baixo tom, servindo de testemunha para o inevitável beijo que logo fez arder entre Karlos e Maria Luisa. Tocaram-se os lábios com a mesma delicadeza com que alguém manuseia algo de importante teor. Seus olhares se cruzaram em seguida, não havia como não recordar as fatias do passado. Mas os beijos continuaram, o calor do momento começou a ferver e a decisão de ir até o fim talvez servisse de escárnio para o desgostoso destino, revivendo um drama cruel e desaforado, porém sempre certeiro.
Caíram em confissões, abraços e canções. Carinho, sentimento de querer estar ali, junto, naquele instante eterno. As mãos acariciando toda a superfície da pele, os lábios beliscando a face, e o álcool descansando ao lado da cama.
O sentimento é bom, bebido com minuciosa calma, sem pressa. A conclusão, então, é recíproca: corre entre eles o elo eterno de cumplicidade.
As estrelas abandonaram o barco, e o sol subiu a bordo. Era a hora da despedida. Abraços, beijos, ânsia de alguma coisa ilógica. Na porta, entre o interior do prédio azulejado e a rua maravilhosamente linda, Karlos e Maria Luisa proferem o último beijo da noite. Uma ultima olhadela e a porta se fechou. O taxi o esperava.
O que restou da noite? Muito mais que uma noite, uma sensação prazerosa, uma vontade recíproca de estar junto e de querer o abraço e o beijo novamente. É, talvez sim... Maria Luisa entrou em seu apartamento, e Karlos no taxi. Não era a primeira, e não seria a última vez do encontro, disso até os fantasmas tinham certeza.