Ao som de uma leviana chuva de verão e
entorpecido por uma luz fraca, empalidecida, de cor âmbar, me vi ali naquele
quarto pequeno, mas aconchegante. A minha direita uma porta que levava ao
banheiro, na minha esquerda uma pequena poltrona, adornada por roupas que eram
minhas, e sobre a cama, estava eu: nu. Diante de mim, uma felina querendo
arrancar-me toda a malícia existente na alma de um homem pervertido e sedento
de prazer.
Com uma silhueta de aguçar os olhos, a
dama a minha frente dançava com ânsia, sem medo de se entregar. Usava uma
lingerie tão sexy que em momento algum consegui visualizá-la usando outra coisa
senão aquela peça que a vestia tão bem. Era um vermelho sangue, vermelho vivo,
instigante, que girava pra lá e pra cá, a medida que ela rebolava seus quadris
diante dos meus olhos. Não bastasse essa fina demonstração de sensualidade, sua
consistência feminista ia além. Como se fosse uma tigresa, uma felina esperta,
lenta, cautelosa e pronta para atacar a qualquer momento, ela exibia em suas
garras proporcionalmente grandes, uma coloração de igual teor da lingerie,
dando a ela, assim, um aspecto ainda mais sexy do que eu tinha previamente compreendido.
Porém, foi quando, depois de exibir-se
com extraordinário êxito diante de mim, que senti uma pontada de vontade sem
precedentes me golpear. A felina, que usava nos pés um par de sapatos negros,
com um salto fino como punhal, colocou o pé esquerdo sobre minha coxa, como se
a qualquer momento aquele fino salto fosse perfurar minha pele. Senti-me
nervosamente tenso e, ao mesmo tempo, mergulhado num poço de tesão
inimaginável. Queria de todas as formas saltar para cima daquela mulher, com os
dentes arrancar aquele tecido vermelho que ela vestia, puxar seus cabelos e deslizar
minha língua por toda a superfície do seu corpo, explorando cada pedaço de
carne daquele pecado que diante de mim se externava. Queria de todas as formas fazer
isso, contudo, não podia, pois eu estava amarrado na cama. Nu e amarrado na
cama, como um escravo.
A mulher lentamente ia dançando para
mim, fazendo poses e gestos que eu não conseguia compreender como estava
conseguindo aguentar. Fechei os olhos e olhei para o teto, sorrindo a procura
de um refugio, e foi quando, de repente, senti duas mãos tocarem meus ombros e
me empurrarem com força, fazendo-me deitar na cama. Não tive tempo para fazer
nada, pois tão rápida quanto uma gata no cio, a mulher subiu sobre mim e
apoderou-se, como se eu fosse totalmente seu. Senti que ela também estava
embriagada de prazer, pois rebolava, jogava-se para trás com dedicada
experiência e beija-me o corpo todo, sem deixar centímetro algum de fora.
Queria arrancar aquela lingerie, mas por
estar amarrado, nada podia fazer. Assim, entreguei-me a ela e deixei que
conduzisse os trabalhos a seu bel prazer. E foi isso que ela fez, usando desde
chicotes, até outros instrumentos que me fizeram pensar, depois, na
proporcionalidade de sadomasoquismo que teria eu me sujeitado.
– Hoje você é meu escravo – dizia ela
passando a língua nos lábios, rindo de escárnio, com uma feição leviana, safada
e ao mesmo tempo ciente da sacanagem que queria promover para ambos ali naquela
cama, que servia de testemunha de tudo.
O meu estado de prazer estava em um
limite que até hoje não consigo explicar, literalmente gozamos de cada momento
ali vivido.
De súbito, vi que ela se despia, e sob a
fraca luz apresentou-se uma silhueta desenhada. Estava nua, assim como eu. Sem
tirar os olhos de mim, lembro quando ficou de quatro e veio, lentamente pelo
chão, subindo a cama com suas garras, beijando-me, mordendo-me, e, então, subiu
em cima de mim, num momento que eu havia esperado a noite toda. Nossos corpos
se encontraram e a partir de então ninguém mais teve controle de suas ações. Tudo
era prazer.