Foi com uma
inquietante e profunda dor de cabeça que Henri despertou lentamente, abrindo os
olhos com lentidão. Levantou-se e tentou se lembrar de como havia chegado ali,
pois de alguma maneira aquele não parecia um lugar que ele deveria estar.
Henri sentia
dores no estômago e de sua boa se desprendia um pequeno e fino filete de
sangue. Com cautela observou atentamente o lugar em que se encontrava. Era um
vale, uma baixada cercada de morro por todos os lados, e de onde não se podia
observar estrada ou atalho algum que pudesse desaguar ali na clareira onde
agora ele estava. Observou que o local estava cercado de árvores, mas que em uma
delas, situada numa das extremidades da clareira do vale, pode perceber que havia
um detalhe: tons de vermelho embelezavam o tronco, num tom escuro, irregular,
que descia até o chão. Ao virar-se, Henri observou que na outra extremidade
havia uma cabana de madeira, antiga, pequena, e com a porta amarrada por uma
pequena corda em um prego.
Sem saber o que
fazer, Henri pensou em permanecer parado, tentando encontrar algum porque que
pudesse fazer sentido sobre estar ali, contudo, ao fitar novamente aquela casa,
decidiu ir verificar o que era ou quem lá morava. Cambaleante, caminhou a
passos lentos, defeituosos, sendo contemplado pelo rumor do tempo, que trazia
um vento forte, gélido, emanando da terra um grave cheiro de poeira. O sol não
tinha permissão de ali entrar devido ao grande número de árvores que
circundavam o vale e fechavam o espaço aéreo para qualquer espécie de
luminosidade externa, o que deixava o local ainda mais escuro do que se podia
imaginar.
Ao chegar à
cabana, Henri parou diante da porta e pensou se realmente poderia abri-la. Sem
demorar em seus pensamentos, abriu-a. Diante dele se apresentou uma casa
simples, porém, toda suja e mal cuidada. Os cômodos eram minúsculos e a sala se
misturava com a cozinha. Na pia, sujeira e uma goteira que fazia um barulho
sinistramente impertinente, no chão muita poeira e sobre a mesa nada além de
uma flor negra, murcha, acabada, morta pelo tempo. Havia ainda duas cadeiras de
palha e um sofá rasgado de cor ouro. Logo atrás, depois da pia, havia um
corredor que levava para outro cômodo, e foi pra lá que a consciência de Henri
o levou. A madeira sob seus pés rangia e esse barulho, em consonância com o
vento e com a goteira da pia, eram os únicos sons do lugar.
Ao atravessar o
corredor, Henri encontrou uma porta a sua direita, onde pensou ser um dos
quartos da pequena casa. Girou a maçaneta e abriu a porta cautelosamente, e à
medida que foi fazendo isso, o frio e o tremor começaram a tomar conta de seu
corpo. Esta dentro de um quarto, mas um quarto com ares demoníacos, cuja cena
macabra ali exposta foi capaz de causar-lhe certo mal estar e urgência em seu
medo. O cômodo era uma espécie de arquivo, só que um arquivo sinistramente
desagradável. Havia uma cama com lençóis brancos, porém toda manchada de
sangue. Havia um armário quebrado e nas paredes e no teto, a surpresa: cabeças
humanas jaziam penduradas como se fossem objetos simples. Eram centenas de
cabeças penduradas no teto, uma do lado da outra, decepadas por algo ou alguém
que Henri jamais gostaria de saber quem era. As paredes também estavam
enfeitadas com cabeças, sendo que as mesmas não mantinham um padrão, e exibiam
tamanhos pequenos, grandes, de homens, mulheres e crianças, de raça, cor e
nacionalidades diversas, cujo sangue havia se espalhado pelo chão.
Entorpecido de
horror, Henri cobriu a boca e saiu correndo do cômodo, porém, antes que pudesse
fazê-lo com efetividade, a escuridão tomou conta de seus olhos e um pano negro
cobriu sua cabeça. Duas figuras o conduziram até a árvore suja com vários
outros sangues humanos. Amarraram-no pelas mãos e pés e em seguida tiraram o pano.
Em estado de choque, Henri gritava e perguntava quem eram eles, o que queriam e
porque estavam fazendo aquilo. Encapuzados, os dois homens nada disseram. Então
foi ai que Henri percebeu a lâmina afiada na mão de um deles.
O homem se
aproximou sem falar coisa alguma e, friamente, riscou a lâmina em seu pescoço,
abrindo-o profundamente. O sangue jorrou ferozmente, sem parar, molhando não só
o chão e a árvore, mas as roupas também. Contudo, para finalizar, o homem ergueu
o seu instrumento afiado e de um só golpe, decepou a cabeça de Henri, fazendo-a
rolar pelo chão como uma bola de gude. Enquanto o sangue jorrava sem parar, o
outro homem pegou a cabeça pelos cabelos e começou a caminhar em direção à
cabana e às centenas de cabeças que lá jaziam.