sábado, 25 de agosto de 2012

O POÇO DOS DEGOLADOS



Foi com uma inquietante e profunda dor de cabeça que Henri despertou lentamente, abrindo os olhos com lentidão. Levantou-se e tentou se lembrar de como havia chegado ali, pois de alguma maneira aquele não parecia um lugar que ele deveria estar.
Henri sentia dores no estômago e de sua boa se desprendia um pequeno e fino filete de sangue. Com cautela observou atentamente o lugar em que se encontrava. Era um vale, uma baixada cercada de morro por todos os lados, e de onde não se podia observar estrada ou atalho algum que pudesse desaguar ali na clareira onde agora ele estava. Observou que o local estava cercado de árvores, mas que em uma delas, situada numa das extremidades da clareira do vale, pode perceber que havia um detalhe: tons de vermelho embelezavam o tronco, num tom escuro, irregular, que descia até o chão. Ao virar-se, Henri observou que na outra extremidade havia uma cabana de madeira, antiga, pequena, e com a porta amarrada por uma pequena corda em um prego.
Sem saber o que fazer, Henri pensou em permanecer parado, tentando encontrar algum porque que pudesse fazer sentido sobre estar ali, contudo, ao fitar novamente aquela casa, decidiu ir verificar o que era ou quem lá morava. Cambaleante, caminhou a passos lentos, defeituosos, sendo contemplado pelo rumor do tempo, que trazia um vento forte, gélido, emanando da terra um grave cheiro de poeira. O sol não tinha permissão de ali entrar devido ao grande número de árvores que circundavam o vale e fechavam o espaço aéreo para qualquer espécie de luminosidade externa, o que deixava o local ainda mais escuro do que se podia imaginar.
Ao chegar à cabana, Henri parou diante da porta e pensou se realmente poderia abri-la. Sem demorar em seus pensamentos, abriu-a. Diante dele se apresentou uma casa simples, porém, toda suja e mal cuidada. Os cômodos eram minúsculos e a sala se misturava com a cozinha. Na pia, sujeira e uma goteira que fazia um barulho sinistramente impertinente, no chão muita poeira e sobre a mesa nada além de uma flor negra, murcha, acabada, morta pelo tempo. Havia ainda duas cadeiras de palha e um sofá rasgado de cor ouro. Logo atrás, depois da pia, havia um corredor que levava para outro cômodo, e foi pra lá que a consciência de Henri o levou. A madeira sob seus pés rangia e esse barulho, em consonância com o vento e com a goteira da pia, eram os únicos sons do lugar.
Ao atravessar o corredor, Henri encontrou uma porta a sua direita, onde pensou ser um dos quartos da pequena casa. Girou a maçaneta e abriu a porta cautelosamente, e à medida que foi fazendo isso, o frio e o tremor começaram a tomar conta de seu corpo. Esta dentro de um quarto, mas um quarto com ares demoníacos, cuja cena macabra ali exposta foi capaz de causar-lhe certo mal estar e urgência em seu medo. O cômodo era uma espécie de arquivo, só que um arquivo sinistramente desagradável. Havia uma cama com lençóis brancos, porém toda manchada de sangue. Havia um armário quebrado e nas paredes e no teto, a surpresa: cabeças humanas jaziam penduradas como se fossem objetos simples. Eram centenas de cabeças penduradas no teto, uma do lado da outra, decepadas por algo ou alguém que Henri jamais gostaria de saber quem era. As paredes também estavam enfeitadas com cabeças, sendo que as mesmas não mantinham um padrão, e exibiam tamanhos pequenos, grandes, de homens, mulheres e crianças, de raça, cor e nacionalidades diversas, cujo sangue havia se espalhado pelo chão.
Entorpecido de horror, Henri cobriu a boca e saiu correndo do cômodo, porém, antes que pudesse fazê-lo com efetividade, a escuridão tomou conta de seus olhos e um pano negro cobriu sua cabeça. Duas figuras o conduziram até a árvore suja com vários outros sangues humanos. Amarraram-no pelas mãos e pés e em seguida tiraram o pano. Em estado de choque, Henri gritava e perguntava quem eram eles, o que queriam e porque estavam fazendo aquilo. Encapuzados, os dois homens nada disseram. Então foi ai que Henri percebeu a lâmina afiada na mão de um deles.
O homem se aproximou sem falar coisa alguma e, friamente, riscou a lâmina em seu pescoço, abrindo-o profundamente. O sangue jorrou ferozmente, sem parar, molhando não só o chão e a árvore, mas as roupas também. Contudo, para finalizar, o homem ergueu o seu instrumento afiado e de um só golpe, decepou a cabeça de Henri, fazendo-a rolar pelo chão como uma bola de gude. Enquanto o sangue jorrava sem parar, o outro homem pegou a cabeça pelos cabelos e começou a caminhar em direção à cabana e às centenas de cabeças que lá jaziam.

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