sexta-feira, 10 de agosto de 2012

VOCÊ É O MELHOR PAI DO MUNDO



Pensei que nunca mais fosse vê-las. Em minha mente mergulhada em agonia e drama, imaginei que a morte me levaria consigo para algum lugar, mas, por obra divina de alguma coisa superior, ressurgi das cinzas, e depois de permanecer em coma profundo por quase duas semanas,  finalmente acordei na cama de um quarto, com silhuetas vestidas de jalecos brancos e pares de olhos que me fitavam com certo grau de atenção.

Um dos médicos comentou comigo, assim que a consciência me despertou, que eu estava vivo por milagre e que nem ele, nem as pessoas leigas acreditavam que eu havia sobrevivido ao acidente. Ora, mas o que tinha acontecido comigo, afinal? Descobri, horas depois, que eu estava voltando para casa, trazendo na bagagem presentes para minha filha, minha esposa e meus amigos, quando o inédito aconteceu: um caminhão desgovernado invadiu a minha pista e chocou-se frontalmente comigo. Testemunhas relataram que meu corpo voou longe e que o carro teve perda total. O motorista do caminhão não teve a mesma sorte que eu, e infelizmente acabou perdendo a vida na hora do ocorrido.

Danos internos afetaram-me e muitos dos meus órgãos ficaram danificados, o que fez com que minha vida ficasse por um fio. Por sorte, meu quadro foi ficando estável e começou a evoluir a cada dia. Quando fui pro quarto, eu não pensava em outra coisa senão nas mulheres da minha vida.

Todo esse fato me fez quase esquecer o dia dos pais, e foi então que pensei que seria uma ótima hora para as visitas serem liberadas. Todavia, no anoitecer de sábado o médico me deu a triste noticia de que eu ainda não poderia recebê-las. Confesso que o desapontamento e a tristeza me pegaram de surpresa e, por fim, deixei que o abatimento me levasse ao sono.

Devia ser nove horas da manhã quando acordei e vi, na mesa ao lado da cama, onde deveria estar o meu café, um lindo vaso de flores. Vire-me na cama para melhor olhar e fiquei fitando-o, detalhando cada centímetro daquele objeto, até que, como num estalo abrupto, avistei um bilhete entre as folhas. Estiquei o braço com um tremendo esforço, e li o bilhete:

“Papai, saiba que eu e a mamãe amamos muito você. Você é o melhor pai do mundo, é o meu herói... Obrigado por existir e dar todo o carinho e amor para mim e para a mamãe. Amanhã é o seu dia. Feliz Dia dos Pais!”

Sempre fui um homem forte, resistente, duro demais para qualquer tipo de sentimento leviano, mas ao acabar de ler o bilhete que minha menina havia escrito com as suas próprias letrinhas, não resisti. As lágrimas desceram com fúria pelo meu rosto e o soluço do choro me encheu de uma espécia de calma diferente, como se aquele objeto tivesse me dado uma força estranha. Junto do bilhete tinha uma foto de nós três, e ao vê-la chorei como uma criança ao imaginar a sensação de abraçá-las novamente.

E não demorou. Estava acabando de secar as lágrimas do rosto quando ouvi a maçaneta da porta sendo girada. Eram elas. Minha filha veio correndo ao meu encontro, gritando: “Papai! Papai!”. O abraço foi forte, intenso, verdadeiro. Seu pequeno corpo estava agora entre os meus braços e nossas lágrimas se misturavam como o encontro de dois rios. Em segundos senti mais dois braços me tocando. Era minha mulher que começava a me acariciar e, em meio aos beijos, disse:

- Feliz dia dos pais, meu bem.

- Achei que nunca mais veria vocês - respondi.

- Nunca pensei nisso, papai - minha filha foi dizendo. - Eu fiquei rezando por você e Deus me dizia que você não iria nos deixar. Você é o melhor pai do mundo e eu sou feliz por isso - abraçou-me. - Te amo!

Eu ainda chorava quando o médico entrou e, com um largo sorriso, falou:

- Quer presente melhor que esse no dia dos pais?

Nada respondi. Apenas sorri, deixei que as lágrimas rolassem e que as batidas do coração traduzissem o tamanho daquele sentimento que eu estava vivendo
 

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